quarta-feira, 21 de julho de 2010

TRANSFERÊNCIA, CONTRATRANSFERÊNCIA E SUTILEZAS
















Luiz Gonzaga Caetano Monezi

De acordo com a teoria psicanalítica, a transferência se constitui pelo vínculo afetivo a instaurar-se automáticamente entre o cliente que é analisado e o terapeuta, que faz a análise; mediante projeções, sendo estas, positivas(muito bem vindas, especialmente no início da terapia, estabelece abertura à nova relação) ou negativas(pode ser riquíssima em termos de análise, mas com maiores dificuldades ao terapeuta, inclusive para não agir contratransferencialmente com seu cliente), possibilitando ao cliente o trabalho com suas emoções. O cliente reage, em relação ao terapeuta, como sendo uma outra pessoa, com a qual reagiu de forma original; ficando esclarecido, dessa forma, o relacionamento do cliente, com o indivíduo, então representado pelo terapeuta.
No início, considerava-se a transferência, um obstáculo a impedir o processo analítico, devendo, na visão de Freud, ser neutralizado, com superação, uma vez que iria atribuir ao terapeuta um outro papel que não o da terapia. E o próprio Jung, segundo Jacoby, chegou a afirmar, em uma de suas conferências em 1935, ser uma transferência, sempre um obstáculo, nunca uma vantagem . Mas, posteriormente, conforme Jacoby, passa a aceitar sua real importância à psicoterapia, ao afirmar: “Não é provavelmente exagero dizer que quase todos os casos que requerem um longo tratamento gravitam em torno do problema da transferência, e que o sucesso ou fracasso do tratamento parece estar essencialmente ligado a ele.” (JACOBY, 1984). Para Jung a transferência surge da ausência de uma real relação humana entre o terapeuta e o cliente, parecendo compensar essa falta de diálogo entre os mesmos.
Se a transferência advém da parte do cliente, há também a contratransferência, advinda do terapeuta. E a análise junguiana, propõe diferentes formas de contratransferência: a ilusiva (o analista, inconscientemente, contratransfere conteúdos próprios, impossibilitando insight relevante); contratransferência sintônica ou adequada (uma interação com a transferência do cliente), benéfica à terapia; contratransferência concordante (espontâneo com o cliente, mediante sua necessidade em utilizar o terapeuta, dentro do simbolismo do setting); contratransferência complementar (podendo o sentimento do analista servir de reação benéfica ao estado interno do cliente). Dessa forma, o terapeuta há que se cuidar, através de sutilezas, no que se refere às relações com o cliente, estando profundamente centrado nele e em si mesmo, em pleno uso de sua consciência, a fim de que o trabalho terapêutico não seja prejudicado. É importante lembrar que na proposta de Vanderberghe, a relação terapêutica pode ser compreendida como uma dinâmica de transferência e contratransferência (VANDERBERGHE, 2006). E aos behavioristas, são a causa de mudanças comportamentais.
Jung diverge de Freud, no que diz respeito ser a transferência, projeções de experiências da primeira infância (método reducionista). Para ele consistiria também conteúdos de experiências pessoais, oriundas do inconsciente pessoal e do inconsciente coletivo; compactuando com a gestalt-terapia, que também busca observar as circunstâncias e distorções da relação presente. Como propõe Jacoby, a função do analista junguiano, não é curar e que o auxílio só poderá vir através da mudança de atitude do cliente, através da obtenção de uma relação correta com seu subconsciente (JACOBY, 1984).
Da mesma forma que na abordagem junguiana, a gestalt-terapia, o terapeuta não se neutraliza, centra-se no cliente e em si mesmo, atento ao seu sentir pessoalmente, no momento, ante seu cliente, podendo compartilhar com o mesmo, parte do que sente e interagir, estando, no entanto, à disposição do cliente para acompanhá-lo. A gestalt-terapia supôe sempre o contexto, enfatizando ser o todo diferente das partes. E estas só fazem sentido, em relação ao conjunto. Ela estimula a simpatia, estando o terapeuta presente qual pessoa, numa relação atual Eu/Tu com o paciente, despertando awareness deste a sua inter-relação com o meio. Para o terapeuta sua vivência é sua ferramenta de trabalho, explorando os sentimentos ou impacto despertado pelo cliente; valendo-se destes como material de trabalho.
De acordo com o pensamento de Grün, não é o método psicológico utilizado pelo terapeuta que cura o cliente, mas o amor que ele lhe dispõe, ou, como exprime Rogers, o paciente necessita da experiência da aceitação incondicional do terapeuta para poder trabalhar a sua escassez de experiência de amor na infância. (GRÜN, 2009). O terapeuta ao se colocar em pé de igualdade com o cliente, ganha sua confiança propondo uma busca a dois, pela solução, e o cliente passa a se entregar na mesma intensidade que este. O terapeuta permite que o amor tenha sua fluência por ele, dentro do trabalho terapêutico. E então, ambos estão abertos ao que possa acontecer. É fundamental entender que a saúde psíquica do terapeuta, interferirá consideralvelmente na saúde do paciente.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

JACOBY, M. - O Encontro Analítico: Transferência e relacionamento humano (Tradução de Claudia Gerpe Duarte) - São Paulo, Cultrix, 1984. KOLB - Psiquiatria Clínica - Rio de Janeiro, 1997.

VANDERBERGHE, L. & SOUZA, A. C. (2006). Mindfulness nas Terapias Cognitivas. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 2, 1, 35-44.
LOPEZ - Avaliação crítica das doutrinas psicanalíticas - Fundação Getúlio Vargas - Rio de Janeiro, 1964.

GRÜN,Anselm. Morar na casa do Amor. São Paulo: Edições Loyola, 2009.
SHARP, D. - Léxico Junguiano: Dicionário de termos e conceito (Tradução de Raul Milanez) - São Paulo:Cultrix,1991.

The American Heritage® Dictionary of the English Language, Fourth Edition copyright ©2000 by Houghton Mifflin Company. Updated in 2009. Published by Houghton Mifflin Company. Disponível em: www.thefreedictionary.com/awareness

FREUD, S. (1915/1969). Observações sobre o amor transferencial. In: Coleção standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (vol. 12, pp. 208-221). Rio de Janeiro: Imago

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