terça-feira, 13 de julho de 2010

AVALIAÇÃO OU CASTIGO?

Prof. Luiz Gonzaga Caetano Monezi

Em matéria de ensino-aprendizagem, a avaliação tem sido um dos assuntos mais discutidos ao longo desses anos no ambiente educacional. Tornou-se protagonista da grande evasão escolar, repetência e principalmente por refletir modelos de ensino contrários à aquisição de conhecimentos fundamentais aos alunos excluídos dos benefícios da riqueza socialmente produzida.. Afirmam pedagogos contemporâneos que ao avaliar o professor está avaliando a si próprio. E que, hoje, já não faz mais sentido o arcaico processo de avaliar o aluno apenas quantitativamente. A verdadeira avaliação deve contemplar acima de tudo aspectos qualitativos, não podendo jamais ser um processo final, isolado do montante das ações pedagógicas, supostamente ocorridas, mas contínua. Vasconcellos (2005, p. 32) analisa que o grande entrave da avaliação é o seu uso como instrumento de controle, de inculcação ideológica e de discriminação social. Se o professor é cúmplice de todo o sucesso do aluno, também o será pelo seu fracasso que por ventura a ele sobrevir.
Mesmo num mundo em plena evolução, o ultrapassado sistema avaliatória teima em prevalecer na maioria das nossas escolas e obviamente, na cabeça de inúmeros mestres. É bem nos moldes como retrata Offmann: "[...] conceber e nomear o “ fazer testes”, o “dar notas”, por avaliação é uma atitude simplista e ingênua! Significa reduzir o processo avaliativo, de acompanhamento e ação com base na reflexão, a parcos instrumentos auxiliares desse processo, como se nomeássemos por bisturi um procedimento cirúrgico" (HOFFMANN, 2000). São os percalços de uma a avaliação punitiva, que, na verdade, deveria ser um instrumento de crescimento dentro do processo de ensino-aprendizagem. É preciso entender professor e aluno como sujeitos do processo educativo. E vejamos o que diz Cláudio Saltini: “As escolas deveriam entender mais de seres humanos e de amor do que de conteúdos e técnicas educativas. Elas têm contribuído em demasia para a construção de neuróticos por não entenderem de amor, de sonhos, de fantasias, de símbolos e de dores” (SALTINI, 1999).
Para Philippe Perrenoud: “Mudar a avaliação, significa, provavelmente, mudar a escola.” (PERRENOUD, 1998). E então, por quantas mudanças a Escola não deveria passar se a avaliação responde por tantos fracassos na Educação? E o professor Luckesi, acrescemta: “Mais importante do que ser uma oportunidade de aprendizagem significativa, a avaliação tem sido uma oportunidade de prova de resistência do aluno aos ataques do professor” (LUCKESI, 2002, p. 23). O douto professor fala de inclusão, indispensável a qualquer processo de avaliação, que objetive trilhar ocaminho seguro do autêntico ensino-aprendizagem. E o mestre conclui: “A avaliação é um ato amoroso” ( LUCKESI, 1997).
Felizmente , uma boa parte dos mestres, já entenderam de certa forma a responsabilidade de avaliar, não incorrendo nas danosas práticas abusivas de alguns, com seu pseudo senso intocável de justiça, utilizando a avaliação, mais como um instrumento de controle ideológico, não reconhecendo o outro, na pessoa do aluno. Souza (1992 ) , ao se referir ao assunto diz que a avaliação exerce um poderoso controle sobre o conhecimento, porque o aluno " estuda " para fazer prova, responde corretamente aquilo que nem mesmo compreendeu, sem esquecer que as questões são mal formuladas e permitem várias interpretações.
Podemos pois, concluir, que ato avaliar é algo, profundamente sério, como sendo uma autêntica radiografia do processo ensino-aprendizagem, que não se limita apenas no cognitivo, mas, no montante das ações pedagógicas, na vivência do aprender, em busca de autonomia; não tendo nada a ver com “pegadinhas”, armadilhas, simples decorebas, que boa parte dos mestres, infelizmente, ainda utilizam, no pretenso ato de avaliar seus alunos, tomados por atitudes avessas ao processo de ensinar. E para fechar com chave de ouro, conclamemos com o sábio dizer do renomado arquiteto das palavras, o grande Guimarães Rosa: “Mestre é quem, de repente, aprende.”


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LUCKESI, Cipriano. Avaliação: Otimização do Autoritarismo. Equívocos Teóricos na prática educacional, Rio de Janeiro, ABT, 1984.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Avaliação: concepção dialética-libertadora do processo de avaliação escolar. 15.ed. São Paulo: Libertad, 2005. (Cadernos Pedagógicos do Libertad, v.3).

SOUZA, Angela Maria Calazans de. A avaliação no processo de construção do Conhecimento. Revista Amae - Educando. Belo Horizonte,( 226 ) 9:11 ,1992.

HOFFMANN, Jussara. Avaliação : Mito e Desafio - Uma Perspectiva Construtivista. 18ª Ed. P. Alegre: Mediação , 1996.

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